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O que de fato divide os
brasileiros (não é o impeachment) |
24/03/16 - Por Malu
Gaspar |
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Faz parte da retórica polarizada que
tomou conta do debate político brasileiro contrapor à
vontade das elites à das classes populares em relação ao
governo. Segundo essa lógica, só os ricos seriam a favor
do impeachment, e os pobres, contra. Na prática, porém,
não é assim que funciona. As pesquisas feitas pelo
Datafolha nas manifestações pró e anti-governo mostram
que até havia diferenças entre os dois grupos.
Entre os pró-impeachment, 37% ganhavam mais do
que 10 salários mínimos; entre os apoiadores de Dilma,
24% tinham a mesma renda. Nos protestos contra o
governo, 12% eram empresários. Nos pró-Dilma, 15% eram
funcionários públicos. Tanto numa como noutra
manifestação, porém, perto de 80% dos manifestantes
tinha ensino superior, cerca de 30% tinha carteira
registrada, e mais da metade ganhava mais do que 5
salários mínimos.
Do que se concluiu que, de um lado e de outro,
quem estava na rua era parte significativa da elite.
Poucos se deram ao trabalho de perguntar o que pensam da
crise os que estão na base da pirâmide e não saíram de
casa nem para tentar derrubar o governo, nem para
apoiá-lo.
Esse é o trabalho do instituto de pesquisas Data
Popular, que se especializou em compreender o que se
passa na cabeça dos brasileiros com renda familiar
abaixo de 3 500 reais por mês – as chamadas classes C, D
e E.
O Data Popular descobriu que os mais pobres não
foram às manifestações porque, primeiro, as consideram
“coisa de rico”. Depois, porque são totalmente
descrentes dos partidos e do sistema político e não
acreditam que a queda de Dilma Rousseff vá trazer
mudanças radicais no panorama econômico e social. Quando
se aprofunda a compreensão sobre o que pensa essa
parcela da população, emerge o fator que realmente
separa ricos de pobres. E não é o impeachment.
“A defesa do impeachment se dá na mesma proporção
em todas as classes sociais. Mas as razões de cada grupo
para pedi-lo são diametralmente opostas”, explica Renato
Meirelles, presidente do instituto. “Os brasileiros
estão bem menos divididos quanto ao impeachment do que
sobre o que deve ser o futuro do país”.
Segundo ele, a classe C está mais indignada com o
encolhimento de benefícios como o Bolsa Família, o Minha
Casa Minha Vida, o Prouni e o Pronatec do que
propriamente com a corrupção. “Para eles, a Dilma tem de
sair porque não cumpriu os compromissos de campanha e
não conseguiu ampliar esses benefícios”.
Esse público, portanto, defende o Estado
eficiente, mas provedor – que Meirelles chama de “estado
vigoroso” –, enquanto nos estratos de maior renda ocorre
justamente o oposto. “Os 20% mais ricos, em geral,
querem um estado enxuto”. É aí que está o fosso
ideológico que realmente importa, e é com esse tema que
o país terá de lidar assim que o impasse do impeachment
for resolvido. Como o Estado brasileiro está quebrado e
o ajuste será inevitável, o embate fatalmente será
traumático.
Na interpretação do presidente do Data Popular, o
único fator capaz de atrair para os atos pró-impeachment
o engajamento dos mais pobres seria um projeto ou um
líder que representasse a promessa de melhoria no
pós-Dilma. Mas não há sinal de algo do tipo no
horizonte. Em janeiro, o Data Popular perguntou a 3 500
pessoas de todas as classes sociais se conseguiriam
dizer o nome de uma pessoa capaz de tirar o país da
crise – 89% disseram que não seriam capazes. Entre os
11% que apontaram algum nome, a maioria citou o Papa
Francisco. Esses e outros dados que Meirelles apurou lhe
dão a convicção de que o próximo presidente eleito no
Brasil será alguém que nunca se candidatou.
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